terça-feira, 11 de agosto de 2009

Um menino


Sentado na calçada, espera o menino, silencioso.

Espera mas não sabe o que espera.

Quer sem querer o quer ese avoluma a olhar por entre as sombras algum vulto que o ampare.

Quem poderá curá-lo? Espera mesmo assim...

cabisbaixo, triste, só lamenta.

Mas lamenta depois que se joga na astúcia inimiga.

Quer ser um farol, mas está apagado.

Quer ser uma seta, porém se vê pixado.

Quer ser uma referência, todavia se mostra incapaz.

Suspira um suspiro fundo e mina os olhos.

Odiou a praça e seus livros, perturbou-se com as letras,

não soube separar o belo, o frutífero, o contato do que insignificante.

É um poeta as avessas, com olhos carregados, expressão cisuda e

com o corpo encurvado, sinal da cruz.

O tempo o suga, o medo e a insegurança.

Chora por sobre si mesmo e se lança na escura via dos incoerentes.

Palavras são palavras, significam o que queremos significar, e se escondem

escondendo a maldade.

Um semblante com ferros retorcidos e vidro pode tirar-lhe a paz e fazê-lo deitar-se no Xeol.

Que sorte a desse menino, nem o fogo ele pode fitar sem dor...

tem o alento da fé, mas lhe falta a caridade.

Tem a ciência, mas é deficiente na aplicação.

O pobre menino se vê só, preenchido as vezes, mas desgostoso de si mesmo.

Não sabe confiar, não saber crer, não sabe esperar e atropela seus sentidos.

Cria monstros inimagináveis, cria torturas e se culpa sozinho.

Vê, mas não exerga. Anda, porém não caminha.

Perturba-se por ir da luz às trevas e das trevas a luz da verdade.

Dolorosa, sentida, chorosa, exaustiva, mórbida, injusta.

Nessa subida de perfeição, deixando de ser Íria, monstro, ele precisa ficar em pé

e a grande arte é fazê-lo voltar si mesmo e orientar o seu olhar.


Caminhando... em construção!

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